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A cada dia me apaixono mais pelo trabalho com crianças com necessidades educativas especiais. Neste blog quero apresentar estratégias, informações e acima de tudo contribuições práticas para que estes sujeitos tenham possibilidades claras de aprendizagens. Confiram!!! Minhas credenciais: Sou Pedagogo; - Psicopedagogo Clínico e Institucional; - Assistente Social CRESS-Ba 8283.

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domingo, 5 de julho de 2009

Psicanálise e Educação: limites e possibilidades

UM MUNDO MELHOR SE CONSTRÓI EM MUTIRÃO/edineimessias


PSICANÁLISE E EDUCAÇÃO: LIMITES E POSSIBILIDADES

Edinei Messias Alecrim[1]
edineimessias@hotmail.com
Judite Maria de Oliveira Silva[2]
juditemarcia@yahoo.com.br
Tiara Naiene G. dourado Souza[3]
thithi_dourado@hotmail.com

Resumo: Este artigo tem como objetivo buscar na relação entre a psicanálise e a educação, possíveis elementos que ultrapassem os problemas educacionais. Procuramos mostrar a importância da psicanálise para a reflexão sobre a produção do conhecimento e sobre a relação professor-aluno e como as áreas do conhecimento humano podem beneficiar-se com um trabalho interdisciplinar.


Palavras-chave: Psicanálise, educação, limites, possibilidades


Resumen: Este artículo tiene como objetivo a buscar en la relación entre el sicoanálisis y la educación, los elementos posibles que exceden los problemas educativos. Buscamos para demostrar a la importancia del sicoanálisis para la reflexión en la producción del conocimiento y de la profesor-pupila de la relación y mientras que las áreas del conocimiento humano se pueden beneficiar con un trabajo a interdisciplinar.

Palabra-llave: Sicoanálisis, educación, límites, posibilidades


PSICANÁLISE, E O FAZER DA SALA DE AULA

Os estudos mais recentes em torno de uma ligação entre psicanálise e educação, provocam um enorme choque de idéias e uma discussão a partir das possibilidades e dos limites existentes entre ambas, com foco no ensino, na aprendizagem e nas relações que se estabelece entre o sujeito que educa e o sujeito que aprende. As discussões alteraram consideravelmente o contexto influente da psicanálise nos contextos educativos. As duas vertentes são diferentes a começar pelos objetos de interesse e pelos sujeitos que demandam esses conhecimentos.
O objeto de estudo da psicanálise é o inconsciente e o funcionamento da área psicológica, e o da educação é o conhecimento, o saber cognitivo. O psicanalista nesse tocante pode ser concebido como o analista e o professor, aquele que ensino, ou seja, o educador. Para a educação o foco central dos problemas de aprendizagem quase sempre é o aluno, questão necessária de ser repensada no atual momento de quebra de paradigmas educacionais.
Se o professor desejar “beber na fonte” da psicanálise como sugere Kupfer (1997), deverá rever seus conceitos e postura ética de como utilizará esses conhecimentos em sua prática educativa, além de preocupar-se com sua formação continuada.
A psicanálise está se constituindo em um conhecimento novo, elemento essencial na propagação de uma cultura em que o sujeito aprendente necessita ser observado, escutado, a partir de um olhar humanizado. Sendo assim, a psicanálise não poderá fazer o papel de educação e não pode ser considerada salvação para todos os problemas enfrentados pela escola, mas possibilitará um auxílio no entendimento de como o conhecimento do funcionamento mental e inconsciente dos sujeitos envolvidos nesse processo, se articula e se desenvolve. O trabalho da educação é algo subjetivo, e não deve ser confundido e substituído pela psicanálise. Nesse tocante, Rosa (2003), reforça que:
É preciso ver o sujeito na sua singularidade, evitando a estereotipia e a padronização que servem para afastar os que deveriam estar unidos e mediados pela diferença, no contexto do ensinar e do aprender. O ensino não pode ser patologizante, nem adaptativo. O ensino deve levar em conta as possibilidades e capacidades dos alunos sem responsabilizá-los pelo próprio fracasso” (p. 220).

Para a psicanálise, a educação é apenas o caminho, uma trajetória a ser seguida, não a chegada, o fim de algo a ser objetivado. É um encontro com a diversidade, com as contradições, amor e ódio, real e simbólico, soluções e problemas de aprendizagem. Assim, a pedagogia tenta ignorar a realidade da condição humana, esperando que o aluno seja um ser ideal enquadrado em normas que acredita, o façam aprender, enquanto que a psicanálise aponta para essa realidade contraditória.
Todavia, para o discente, o educador é aquele que cultua o saber, que detém o conhecimento e o poder e o professor precisa tomar conhecimento disso para se colocar no lugar de conhecedor de compreensões já culturalmente e socialmente aceitas, para aí sim, passar a ser mediador do conhecimento entre o aluno e o próprio conhecimento. Aqui se assenta o verdadeiro papel do professor no processo de ensino-aprendizagem.
No contexto educativo o processo ensino-aprendizagem é por si só, violento e ultrapassado, pois desde que o aluno chega à escola, na educação infantil, quase tudo é obrigatório como os próprios conteúdos, regras, filas, horários a cumprir e as avaliações. Assim, o sujeito aprendente torna um ser ineducável, incapaz de efetivar no seu psíquico o processo educativo formal imposto pela escola. Rosa (2003) fundamenta que: “O desenvolvimento da criança vai depender do funcionamento psíquico, em seu conjunto, das relações de dependência e independência e diferenciação progressiva do eu com o outro e com o meio exterior” (p. 206).
Uma outra questão fundamental é a organização escolar que por si só gera abusivamente uma enorme violência, um grande choque de identidade, pois vai de encontro com tudo àquilo que a criança trás de casa antes de chegar a idade de estar na escola. Esta, por sinal é submetida a normas e regras, isto tudo tem função de defesa contra a ansiedade, desejando a falência das pulsões e dando oportunidades do professor de exercer o seu poder, sua autoridade, por outro lado, favorece as questões transferenciais e de identificação da rede de relacionamentos e papéis, no contato com os colegas e com o próprio professor.
No atual cenário educacional não cabe ao professor a função de desencadear a sublimação, por esta ser inconsciente. Mas, ele poderia pelo menos abrir um espaço de escuta do desejo do aluno, que se desenvolverá resignificando a perda do objeto imaginário por objetos pertencentes à cultura de maneira geral, não pertencente a alguém em particular. Numa relação de perder-ganhar-reconquistar, num ciclo que permite inúmeras possibilidades. Aqui, a escuta do desejo do educando é fundamental, pois esta escuta proporcionará ao professor um olhar significativo sobre a postura do aluno e sua identificação com o espaço educativo e com o objeto do conhecimento.
A falta é fonte indispensável na observação e escuta do sujeito aprendente. Esta falta é subjetiva faz parte do sujeito, do desejo. É uma falta impossível de ser preenchida por um objeto real, mas a busca é incessante e advém como falta de um objeto que foi perdido para sempre. Na busca pela compreensão do ensino-aprendizagem, a educação ainda não parou efetivamente para discutir o que cada sujeito em cada sala de aula diz, anseia e sonha para suas vida. É preciso resignificar a prática, escutar afetivamente cada sujeito aprendente.
Uma outra discussão pertinente na compreensão da subjetividade do aluno é o complexo de Édipo. O complexo de Édipo é entendido aqui como a superação da criança em relação à mãe com a aparição do Outro que garanta a função paterna de Lei que se inscreve no inconsciente da criança como proibição do incesto que impe
Assim, permeados por saberes essenciais dentro da sua formação, os educadores neste cenário conturbado deveriam conhecer toda influência que sofre a formação psíquica da criança desde seus primeiros anos de vida no ambiente familiar na sua relação com pais, irmãos, amigos. Tais influências vão se refletir na sua personalidade e que irão perdurar por toda sua vida adulta, como afirma Rosa (2003): ”No início da vida, a criança é indefesa e suas relações influenciarão o curso de seu desenvolvimento” (p. 206).
O processo de formação dos atuais professores deve possuir uma incontestável possibilidade de refletir sua prática pedagógica, estar atento ao que se passa na mente de seus alunos, procurar conhecer sua individualidade psíquica através de pequenos gestos que às vezes escapam, tais como mudanças de atitude e de comportamento no seu dia a dia em sala de aula. Esse processo é visualizado na psicanálise como o momento da escuta flutuante, ou seja, quando o professor sai de si mesmo e passa a observar cuidadosamente o ambiente e as relações que cerca o aluno.
A postura do aluno na relação com o conhecimento é o objeto do desejo que se propaga na relação professor-aluno, é fruto da identificação que o aluno tem com o seu mestre, que tem papel importante em despertar esse desejo. O educador funciona como dirigente desse processo que se dá nessa relação triangular. Esse triângulo significa dizer que, o aluno aprende quando se identifica com o seu mestre, ao vê-lo como alguém que lhe foi muito querido, uma lembrança do período de sua infância, assim como salienta Rosa: “Cada pessoa localiza e reconhece seu desejo por intermédio da sua imagem refletida no semblante do Outro” (2003, p.225).
Nesse tocante, o sujeito que aprende imagina que o professor detém todo o saber e o mestre precisa estar atento a isto, sabendo que este conhecimento não é totalitário, podendo ser ampliado, modificado e acrescido, pois novos saberes sempre são adquiridos e vivenciados. Todavia, o desejo de aprender é algo presente não unicamente no sujeito aprendente, mas também na imagem que este sujeito realiza do Outro e nas suas relações estabelecidas.

POSSIBILIDADES DA ARTICULAÇÃO ENTRE A PSICANÁLISE E A EDUCAÇÃO

Muitos estudos entre psicanalistas colocam uma enorme dúvida sobre a possibilidade de existir formas de colaboração efetiva da Psicanálise para alguma intervenção nos fenômenos do cotidiano da sala de aula. Assim, partem de uma premissa de que cada sujeito deve ser considerado singularmente, portanto o professor ou o aluno necessitariam ser escutados individualmente, para que alguma transformação ou modificação nas suas relações oriunda da Psicanálise possa se fazer notar.
Provavelmente uma possibilidade de articulação entre a psicanálise e a educação seja a concretização de um espaço de fala e escuta, ou seja, da necessidade de se criar momentos de observação flutuante pelos professores dentro de sua prática em sala de aula e fora dela. Assim, professores e especialistas envolvidos no ato educativo e até mesmo nos cursos de formação e na formação continuada dos professores, possam tomar consciência e repensar suas convicções, anseios e ações em sua função de mediadores entre aluno e conhecimento.
Nesse tocante, um olhar psicanalítico sobre o pensar e o fazer dos professores, a possibilidade da criação de um espaço onde se possa refletir sobre o fazer, através da resignificação dos valores pedagógicos e humanitários para ampliação e modificação de posturas em relação às suas práticas na efetiva sala de aula, possibilitará novas descobertas o trabalho educativo em da sala de aula.
A discussão em torno do encontro positivo entre a psicanálise e a educação fomentou reflexões e possibilitou a contribuição da psicanálise à educação por meio da descoberta do seu poder antagônico de ser nociva e ao mesmo tempo necessária. Sendo assim, o educador pode aprender com a psicanálise a refletir sobre sua prática pedagógica.
Cabe ao professor não se acomodar, pois há muito que se estudar sobre as relações intersubjetivas de todos os segmentos envolvidos no processo educativo. Com a ajuda da psicanálise, todo educador poderá tomar consciência de seu papel e da importância da transferência na relação e adotar uma postura reflexiva quanto ao exercício de sua função de educar. A psicanálise entra neste cenário como eixo norteador na descoberta pelo professor da sua enorme necessidade de estudos neste campo do conhecimento.
Muitos desafios são colocados na discussão entre o educador e o seu fazer pedagógico no atual contexto educativo, a partir da compreensão psicanalítica, que é buscar o ponto de equilíbrio que se faz necessário para a educação de forma que ela se torne mais produtiva e prazerosa para professores e alunos; que ela possa orientar a criança nos seus limites, anseios e desejos; que os professores tenham um auto-conhecimento tal que lhes permita não se sentirem senhores absolutos do saber nem um ser vazio de seu próprio desejo; que a singularidade de cada sujeito envolvido no processo seja preservada e valorizada e que os diálogos sejam alicerçados com base na ética, nos valores e no respeito ao outro, seja ele professor ou aluno.
Os educadores precisam continuar tecendo seus saberes por meio de estudos continuados, e trabalhando, mesmo conscientes de que a educação ideal é impossível, porém se faz urgente persegui-la, visualiza-la sob a ótica, da própria psicanálise. A psicanálise pode se tornar um elo de conexão com a educação, pois possibilita reflexões da prática educativa favorecendo a compreensão e a interpretação de que os fatores psíquicos influenciam decididamente o processo de ensino-aprendizagem do sujeito. Assim, o aprender para Rosa (2003), significa:

Aprendizagem não é aquisição de um comportamento qualquer, mas de comportamentos que podem mudar a ação, os sentimentos e os pensamentos sobre a realidade. A aprendizagem representa uma possibilidade de mudar as percepções sobre a realidade, a generalização e a aplicação de novos conhecimentos na vida e nas salas de aula (214).

Nessa perspectiva, que o corpo docente e especialistas da escola, orientados pela psicanálise, possam descobrir um novo espaço de olhar e escutar, um novo jeito de se relacionarem entre si e com seus alunos, possibilitando no ambiente educativo o prazer e o desejo de aprender, fatores essências na construção do conhecimento.
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REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS

FREUD, S. (1905). Três ensaios sobre a teoria da sexualidade. ESB, vol.VII, 1 ed, Rio de Janeiro:Imago Editora, 1972.
KUPFER, MARIA CRISTlNA MACHADO. Educação para o futuro: Psicanálise e Educação. São Paulo: Escuta, 2 ed. 2001.
ROSA, Jorge La (org). Psicologia e Educação: o significado do aprender. 7. ed. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2003.

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